Imponentes e Carentes

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Em meio ao centro, os monumentos da cidade não atraem a atenção

Por Tais Souza

Colaboração de Rejane Santos

Todos passam por elas ao visitarem o Centro de São Paulo. É quase impossível não vê-las. Porém, ainda são ignoradas por muitos. Estão ali paradas em nome de momentos históricos, personagens inesquecíveis, datas para nunca esquecer. Tem nome e rosto, mas podem conter significados além das primeiras impressões. O desafio é notá-las. Alguns vêm de longe só para tirar uma foto. Os daqui quase não se importam. As estátuas e monumentos estão lá esperando que alguém pare e se pergunte de onde elas vieram e o que fazem ali.
Observando durante cinco minutos o Pátio do Colégio é possível perceber que, faça chuva ou faça sol, há os que param e olham para a estátua da Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo. Ela está lá, sempre imponente com seus 25,75 metros. Mesmo assim, o dono da banca de jornal, Edgar Vieira, que tem seu ponto em frente à estátua não repara muito em quem quer vê-la. Para ele, o frustrante é a quantidade de gente pedindo informação. Acha que as pessoas só chegam perto, pois querem entrar no museu.
Uma pergunta ampla e genérica exigiu que professores, designer gráfico e até um historiador hesitassem ao responder. Por que as estátuas e monumentos são importantes? “Deixa eu pensar...”, Eliane do Carmo, professora, responde. Foi pega de surpresa. Passava direto pelo Pátio do Colégio, só olhou de relance para a obra de arte. “Muita gente não conhece as histórias das estátuas, acha bonito e tudo, mas com a correria do dia a dia nem repara.” Após dizer, se rendeu. Resolveu, então, posar para a foto. Pediu às amigas que pegassem a máquina, ficou em frente à Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo e sorriu. Severino Gonçalves é historiador e veio de Pernambuco numa excursão para visitar os pontos históricos da cidade. Como professor, se preocupa com o resgate da cultura e história na vida dos jovens. “Poucos deles se interessam pela história da cidade. Por exemplo, não existem mais excursões para conhecer outros estados.” Fábio Bulhões é design gráfico, ele aponta, mostra um detalhe da estátua para a sobrinha e interrompido responde: “São símbolos, né? E é mais fácil de identificar os momentos históricos do país”. Frases feitas, todas com alusão a preservar instantes significativos. Mas poucas estátuas ou monumentos dizem a que vieram. Uma plaquinha explicativa seria o bastante para informar. Porém, parece difícil enxergá-las como arte, quem dirá ler sua história.
O primeiro monumento de São Paulo está localizado na saída do metrô Anhangabaú. Trata-se do Obelisco da Memória. Diversas pessoas viram as costas, sentam nas escadarias aos seus pés e não sabem do seu valor histórico. Os inúmeros monumentos presentes na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal, foram presentes de outros países para a cidade. Como por exemplo, a estátua Estados Unidos do Brasil que veio da Itália em homenagem ao Centenário de Independência do Brasil. Já o Monumento a Anchieta foi erguido em comemoração ao centenário de São Paulo. Essas são apenas algumas das inúmeras estátuas e monumentos que enfeitam as ruas do centro velho. Isso sem falar nas outras espalhadas por toda a metrópole.
As obras de arte urbanas são importantes. Mas quem realmente se interessa por elas não são brasileiros. O Departamento do Patrimônio Histórico concluiu que os turistas gostam muito do que veem por aqui. Eles “procuram na paisagem e se deslumbram com formas desconhecidas, tão relacionadas com a cidade que visitam”. Mas William Martins que não é gari, nem lixeiro, mas sim quem faz a limpeza urbana, que fique bem claro, não usa palavras bonitas. Ele vai direto ao ponto. “Os turistas acham as estátuas mais interessantes do que os brasileiros. É a lembrança que eles levam para o país deles. Eles dão nota 10 para o Brasil. A gente não gosta tanto do Brasil quanto os de outros países gostam”. E por causa da sua profissão, repara no que está a sua volta e conserva aquilo que poucos percebem. Mas gosta de ser anônimo... “Reportagem? Não precisa disso... Mas moça, ninguém aqui se importa”. Apesar de tudo, os monumentos permanecem em seus lugares, aguardando para serem notados. Vigiando dia e noite a cidade que ajudam a registrar.